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Conexões que curam: saúde mental, tratamento oncológico e rede de apoio

A saúde mental é um aspecto fundamental para o bem-estar geral de qualquer indivíduo, e quando se trata de pacientes em tratamento oncológico, essa questão se torna ainda mais relevante. O diagnóstico de câncer pode desencadear uma série de emoções e desafios psicológicos, que podem afetar diretamente a qualidade de vida do paciente.


Nesse contexto, a rede de apoio desempenha um papel crucial, fornecendo suporte emocional e prático durante todo o processo de tratamento. Nesta postagem do blog, as psicólogas da Clínica Soma explicam a importância da saúde mental, a saúde mental no tratamento oncológico e como a rede de apoio pode ser um fator determinante para a recuperação e bem-estar dos pacientes. Acompanhe-nos nessa jornada de conexões que curam.


  • SAÚDE MENTAL


1. Quais são os principais sinais de alerta de problemas de saúde mental?

Percebemos que nossa saúde mental está prejudicada quando sentimos algumas alterações muitas vezes no nosso cotidiano.

Nossos comportamentos, sentimentos e pensamentos nos dão alguns sinais de alerta que alguma coisa não está bem, por exemplo: oscilação de humor, angústia, ansiedade, isolamento, desesperança, desânimo, insegurança, paralisação para tomadas de decisões, insônia, falta de apetite, falta de motivação, falta de planejamento futuro…

Nossas funções psíquicas também começam a nos dar alguns avisos. Algumas delas são: orientação, atenção, concentração, percepção e memória. Ao se apresentarem disfuncionais, é porque precisamos procurar ajuda.

Nem sempre conseguimos nos organizar mentalmente sozinhos, precisamos de um auxílio profissional com um olhar de fora para entendermos o que está acontecendo e nos ajudar, pois muitas vezes não conseguimos realizar atividades diárias, afetando nossa qualidade de vida em diversos âmbitos.


2. Quais são os diferentes tipos de transtornos mentais mais comuns?

Os transtornos mentais mais comuns são os Transtornos de Humor, alguns deles: Transtorno Depressivo, Transtorno Bipolar, Transtorno de Estresse Pós-traumático, Transtorno de Ansiedade Generalizada.

 

3. Quais são os fatores de risco associados à saúde mental?

A saúde mental se refere ao bem-estar do ser humano nos seguintes aspectos: cognitivos, emocionais e comportamentais.

Somos seres bio-psico-socio-espirituais e precisamos nos cuidar de maneira completa para termos uma saúde mental estável.

Em se tratando de fatores de risco, ao não nos cuidarmos, corremos o risco de não conseguirmos manter nossa vida, nossa qualidade de vida.

Os riscos mais apresentados ocorrem quando enfrentamos adversidades e experiências das quais não estamos acostumados, por exemplo: dificuldades ao longo da vida, fatores biológicos, doenças, instabilidade familiar, de relacionamentos e/ou financeira.

 

4. Como lidar com o estresse e a ansiedade no cotidiano?

As adversidades ao longo da vida muitas vezes nos pegam de surpresa e temos que enfrentar condições que antes não nos era comum.

Promover fatores de proteção nos auxiliam no dia-a-dia, por exemplo: criar repertórios de estratégias de enfrentamento, ter rede de apoio, manter as atividades físicas em dia, manter o sono e alimentação de forma saudável, atividades sociais...

Mas sobretudo procurar um profissional da área da saúde mental fará com que a pessoa traga suas questões e reflita de que forma quer, pode e deve enfrentar os desafios.

 

5. Quais são os tratamentos mais eficazes para problemas de saúde mental?

A psicoterapia é fundamental para a pessoa entender o que está acontecendo com ela, bem como mudanças que podem estar ocorrendo (cognitivos, emocionais e comportamentais). Procurar um auxílio psiquiátrico também é importante no caso do uso de alguma medicação. Procurar outros tipos de atividades prazerosas é essencial para o bem-estar do indivíduo como um todo.

 

6. Quais são as implicações da saúde mental na vida profissional e acadêmica?

Quando nossa saúde mental está prejudicada, acarreta em diversos âmbitos da vida, tanto profissional quanto acadêmica. Ocorrem perdas significativas na produtividade do indivíduo ao ser pressionado pelo estresse e ansiedade, faz com que tenha necessidade de maior esforço para manter as atividades de rotina. O cansaço físico e mental prejudica no rendimento como um todo e pode iniciar de forma sutil, aumentando os sintomas ao longo do tempo e sofrimento.


Psicóloga Raquel Toledo | CRP/SC 12596


  • SAÚDE MENTAL – ONCOLOGIA


1. Como o diagnóstico de câncer afeta a saúde mental?

Câncer é uma palavra que guarda em só um poder semântico de perigo iminente de morte. E traz consigo o significado de  tratamento difícil, efeitos colaterais, tempos difíceis. Tudo isso afeta de forma as vezes intempestiva, trazendo um universo de possibilidades de medos e dores que afetam a qualidade da saúde mental.

 

     2. Quais são os principais desafios emocionais enfrentados pelos pacientes oncológicos?

Penso que sejam os vários medos e tabus disseminados ainda em torno do que tange a oncologia. Medos pelas perdas de saúde, perda nos âmbitos estéticos. A idéia de que a vida fica estagnada a partir deste momento. Pensamentos que surgem dizendo que a vida a acontece apenas lá fora, que o momento de tratamento não é vida. E que, a popularização das histórias sobre câncer, biografias e tantas “receitas de sucesso” contribuem para um lugar de ter que dar conta como se nada estivesse acontecendo, uma positividade tóxica.

 

     3. Como a saúde mental pode influenciar o tratamento e a recuperação do câncer?

 Nos mantermos nossa mente ajustada com o que tem que ser vivido, numa perspectiva baseada em fatos reais, nos dá mais opções de escolher melhor por nós a cada momento. Compreender nossas emoções, pensamentos e sentimentos nos dá mais possibilidade de mediar o campo das reações que temos em relação ao que nos frustra, nos doe, nos melhora. Ajuda para que possamos contribuir mais otimizadamente junto a equipe e consigo mesmo .

 

     4. Quais são os sinais de alerta para problemas de saúde mental em pacientes com câncer?

 Crises de angústia, dores recorrentes, insônia, irritabilidade aumentada, falta de apetite, sono em excesso, isolamento social aumentado. São alguns deles.

 

     5. Quais são os recursos disponíveis para apoiar a saúde mental dos pacientes com câncer durante o tratamento?

Existem vários: relaxamento, meditação, mindfulness, atividades físicas, atividades que permitem expressão de voz e arte. Oficinas terapêuticas de várias atividades que tragam foco a si mesmos não apenas fico na doença. Acompanhamento com profissionais tanto na psiquiatra quanto na psicologia. Terapias que tragam sentido a caminhada que precisa ser feita.

 

     6. Como a família e os amigos podem ajudar a promover a saúde mental do paciente com câncer?

Familiares e amigos podem ser apoios com uma escuta ativa, compassiva. Especialmente antes de fornecer saberes e opiniões, se colocar à disposição de ouvir o que a pessoa em tratamento está sentindo e precisando a cada momento. O tratamento e as emoções se mostram muito mais inconstantes, bem como as necessidades físicas, nutricionais, de atividade e repouso. Estar presente, se mostrar disposto e disponível é um bom começo.

 

     7. Quais estratégias são eficazes para lidar com a ansiedade e o estresse durante o tratamento oncológico?

Existem várias possibilidades. Entre elas, terapias que envolvem atenção plena como mindfulness, yoga. Meditação, relaxamento, massagens leves. Psicoterapia, medicação quando necessário para dar suporte bioquímico. Manter boa hidratação para regular o cortisol no organismo também é importante.

 

     8. Existe uma relação entre o câncer e transtornos mentais como depressão e ansiedade? Como eles estão conectados?

O câncer ainda é um diagnóstico que tem a capacidade de atuar sobre nossa ascensão sobre vida e morte. Temas que ficam em evidência deflagrando emoções, pensamentos e sentimentos que podem desencadear síndromes diversas relacionadas ao aumento de ansiedade, depressão, insônia, agitação, prostração. O cansaço físico e emocional constante diante das diversas demandas do tratamento também podem causar alterações na percepção dos fenómenos da vida, mesmo os que costumavam ser corriqueiros.

 

     9. Como a terapia psicológica pode contribuir para o bem-estar emocional dos pacientes com câncer?

 A psicoterapia é um caminho de acompanhamento para acolher emoções, ajudar na compreensão das mesmas. Uma escuta compassiva para que cada etapa seja vivenciada e acolhida em sua essência. Uma forma de aprender a reconhecer processos, compreender tempos, lidar com lutos, com tantas situações inusitadas e inesperadas. Oferecer escuta e encontrar juntos as possibilidades que cada um tem em si

 

     10. Quais são as melhores práticas para cuidar da saúde mental após a conclusão do tratamento contra o câncer, durante o período de remissão?

Após término das etapas do tratamento inicial seguem os cuidados por pelo menos 5 anos. Acompanhar os momentos de angústia que surgem sempre que há exames por fazer, ajudar a retomar a vida pessoal e profissional. Auxiliar no que tange aos direitos do paciente oncológico. Após um período de tantos enfrentamentos as vezes fica um resíduo de cansaço, de um turbilhão de emoções que precisa encontrar um centro novamente. A vida sexual que precisa ser acolhida. O medo das recidivas. Enfim, uma série de questões que precisa ser mantida em acompanhamento. Interessante manter outras terapias que envolvem arte e expressão, movimento e auto cuidado. Alimentar a espiritualidade também é uma das questões essenciais para o equilíbrio mente e corpo.


Psicóloga Margit Mitschke | CRP/SC 7610


  • SAÚDE MENTAL - REDE DE APOIO


1. O que devemos fazer se suspeitarmos que alguém próximo está enfrentando um problema de saúde mental e precisa de ajuda? 

Em primeiro lugar, a primeira atitude a se tomar é o acolhimento afetuoso no sentido de dar apoio à pessoa (familiar ou amiga), dando segurança de que ela pode contar com a nossa ajuda em qualquer circunstância. A seguir, feito um vínculo de confiança, devemos procurar um profissional de saúde mental habilitado para enfrentar e manejar uma situação de crise. Uma avaliação psiquiátrica se faz necessária, com eventual tratamento medicamentoso, dependendo da gravidade do caso. Além disso, um acompanhamento psicológico a médio/longo prazo é também fundamental para investigar as possíveis causas. Dessa forma, apenas medicar não resolve. Temos de ter uma abordagem humanística levando em consideração a situação única e singular individual de cada um. Colocar-se no lugar do outro, “calçando o sapato alheio”, tratando o ente querido do mesmo modo que você gostaria de ser tratado é fundamental. Porém, muitas vezes, a pessoa que está em desequilíbrio psíquico pode não aceitar um tratamento ou mesmo um diagnóstico. Dessa forma, uma conversa franca e fraterna, além da participação de grupos de autoajuda e suporte de pares ajuda bastante.


2. Quais são os benefícios da rede de apoio para pessoas que sofrem de problemas de saúde mental?

O principal benefício é a produção de insights a partir da troca de experiência vivida com outras pessoas que enfrentaram, ou enfrentam, situação semelhante ou, eventualmente, tenham o mesmo diagnóstico. A busca por associações de saúde mental, sejam elas ONGs ou entidades vinculadas ao sistema de saúde público ou privado, pode também proporcionar rede de apoio que ajuda no tratamento e superação (recovery) da crise.


3. Como a rede de apoio pode ajudar no processo de recuperação de problemas de saúde mental?

A rede de apoio, como dito no item anterior, proporciona insights para o reconhecimento de um transtorno mental que pode ser manejado por um profissional de saúde mental de forma multi e interdisciplinar. Através da escuta de relatos de casos, a pessoa em sofrimento psíquico percebe que não está sozinha e abandonada. Sempre haverá a possibilidade de recomeço, especialmente se essa pessoa tiver algum tipo de espiritualidade, religiosa ou não.

 

4. Quais são os diferentes tipos de apoio disponíveis na rede para saúde mental?

Usualmente, a rede de saúde mental, pública (CAPS ou hospitais-dia) ou privada (clínicas ou hospitais psiquiátricos particulares), sempre oferecerá serviços psiquiátricos, através de profissionais habilitados e credenciados, além de suporte psicológico, terapia ocupacional, reuniões em grupo (de usuários e/ou familiares), assistência social e defesa de direitos, com advogados previdenciários, além de apoio psicossocial e psicoeducativo.


5. Qual é o papel dos familiares e amigos na rede de apoio para pessoas com problemas de saúde mental?

Familiares e amigos devem sempre interagir de forma positiva e sinergética com a rede de apoio para atender às necessidades das pessoas com problemas de saúde mental. Dar informações relevantes e verdadeiras sobre a situação que a pessoa vem enfrentado, de forma honesta e ética, é fundamental. Buscar orientação e informação para interagir com a equipe da rede de apoio, que tem vasta experiência profissional e acadêmica em saúde mental, ensinando e aprendendo reciprocamente em como proceder no manejo, não apenas clínico, mas especialmente o psicossocial, para enfrentar e superar a crise.


6. Como encontrar e acessar uma rede de apoio para saúde mental adequada para as necessidades individuais?

Atualmente, uma busca pelo Google ou outra ferramenta de busca na internet geralmente ajuda as pessoas que estão enfrentando uma situação inédita ou nova. Contudo, o ideal é consultar pessoas de confiança que já tiveram necessidade de apoio da rede de saúde mental para se ter uma indicação ou referência visando encontrar os melhores profissionais, maximizando a relação custo/benefício. A busca por clínicas sociais de faculdades e universidades também podem proporcionar informações relevantes e precisas, assim como oferecer serviços a custo mais acessível.


7. Como a rede de apoio pode contribuir para a prevenção de recaídas em problemas de saúde mental?

O acompanhamento ambulatorial pelo período que se faça necessário é fundamental. Pode-se iniciar com uma frequência mensal, trimestral e, após estabilização do quadro psíquico, até mesmo semestral e, assim, pode-se evitar recaídas através do monitoramento psicoterapêutico, com ou sem ajuste medicamentoso.


8. Quais são os desafios enfrentados na construção e manutenção de uma rede de apoio eficaz para pessoas com problemas de saúde mental?

Geralmente, o principal problema para a construção e manutenção de uma rede de apoio eficaz é o financeiro. A falta de verbas pode comprometer a manutenção adequada das instalações, bem como remunerar e/ou contratar profissionais competentes. Também a falta de informação e acesso ao tratamento psicológico e psiquiátrico pode ocorrer em regiões mais remotas, longes dos grandes centros urbanos. Pode inclusive haver a dificuldade de comunicação ou atualização profissional adequada, devido a não participação dos profissionais envolvidos na rede de apoio em eventos e congressos de saúde mental.


9. Como a rede de apoio pode ajudar a diminuir o estigma em relação aos problemas de saúde mental?

A psicoeducação e o acesso à informação são fundamentais para a redução do estigma e do auto estigma. Contudo, infelizmente, muitas vezes a rede de apoio não consegue ter acesso às diversas mídias digitais e sociais, bem como noticiários, que divulgam geralmente fatos desfavoráveis e negativos envolvendo pessoas com transtorno psíquico.  Uma representação nas esferas políticas (sejam elas federal, estadual ou municipal) deve nortear, durante as eleições, a busca de candidatos que tenham uma plataforma balizada pelos direitos humanos e defesa das minorias.


10. Quais estratégias podemos adotar para criar uma rede de apoio efetiva para pessoas que sofrem com problemas de saúde mental?

Network, ou seja, a construção de redes de apoio. A união e o esforço conjunto de pessoas dos diversos setores da sociedade civil são a melhor estratégia para enfrentar problemas em comum e recorrentes. A atuação dos pares, sejam eles usuários, familiares ou profissionais de saúde mental tem de ser harmoniosa e coordenada. Juntos, somos mais fortes. Entretanto, para isso, é necessário enfrentar o estigma e preconceito, de peito aberto, com coragem e sem esconder a realidade dos fatos.


Psicóloga Mariana Rupp | CRP/SC 11465


Em suma, a saúde mental desempenha um papel fundamental na vida da população e dos pacientes que estão passando por um tratamento oncológico, e a criação de uma rede de apoio é essencial para promover o bem-estar emocional de todos que necessitam. 


Através dessas conexões que curam, podemos oferecer uma abordagem mais abrangente e humanizada para o cuidado com a saúde mental.

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