O câncer de pulmão é atualmente o terceiro tipo mais comum de câncer entre os
homens e o quarto entre as mulheres. É o maior responsável por mortes entre os homens e o segundo entre as mulheres, ficando atrás apenas do câncer de mama e custando a vida de quase 30 mil brasileiros a cada ano, segundo o Instituto nacional do Câncer (INCA), sendo o hábito de fumar o principal fator de risco.
O diagnóstico da doença em estágios precoces é a forma mais eficaz de reduzir a mortalidade pela doença. Estudos clínicos demonstram que o screening (programa de rastreamento em pacientes de alto risco) reduziu em 20% a mortalidade por câncer de pulmão.
Devido a esses estudos, nos países desenvolvidos, hoje existe a recomendação de realizar rastreamento com tomografia de tórax anual em todo individuo que seja considerado de alto risco (idade entre 50 e 80 anos, tabagistas ativos ou que tenham parado de fumar a menos de 15 anos), realidade ainda distante no nosso país.
Uma vez diagnosticado, o tratamento multidisciplinar é essencial para a condução da doença, avaliando o correto estadiamento e orientando o tratamento que melhor se encaixa para cada caso. As evidências apontam que os casos conduzidos por times multidisciplinares vivem mais, iniciam o tratamento em um menor tempo e fazem menos exames desnecessários. Dessa forma é recomendado que toda instituição de referência para tratamento de carcinoma pulmonar ofereça essa ferramenta aos seus pacientes.
Nos estágios inicias, a cirurgia permanece sendo a melhor opção terapêutica, seja com ressecções sublobares para lesões menores que 2 cm, como suportam as novas evidências científicas publicadas recentemente ou com a ressecção lobar considerada como o padrão desde a década de 50.
Atualmente, a ressecção pulmonar oncológica pode ser realizada por meio de variações da cirurgia vídeo assistida (uni ou multiportal), através da plataforma robótica ou por toracotomia aberta - a chamada cirurgia convencional.
Os defensores da abordagem minimamente invasiva têm apontado potenciais vantagens em comparação à toracotomia aberta: menor morbidade, menor tempo de convalescença e taxas de sobrevivência superiores.
Inúmeras publicações e mais recentemente os resultados de um ano do estudo VIOLET – Ensaio clínico prospectivo e randomizado que comparou os resultados da vídeo cirurgia versus a toracotomia aberta, demonstraram vantagens da abordagem minimamente invasiva, fundamentalmente na redução da morbidade, custos, tempo de internação hospitalar, dor e maior preservação do sistema imunológico, sem nenhuma diferença na sobrevida livre de doença e nos resultados oncológicos precoces.
Estes resultados preliminares, de alguma forma corroboram o que parece um caminho sem volta: a hegemonia da cirurgia minimamente invasiva sobre as ressecções convencionais.
Dr. Maurício Pimentel - Cirurgião Torácico
CRM/SC 19059 - RQE 10784
Referências:
1. STONE, Emily et al. Does presentation at multidisciplinary team meetings improve lung cancer survival? Findings from a consecutive cohort study. Lung Cancer, v. 124, p. 199-204, 2018.
2. SAJI, Hisashi et al. Segmentectomy versus lobectomy in small-sized peripheral non-small-cell lung cancer (JCOG0802/WJOG4607L): a multicentre, open-label, phase 3, randomised, controlled, non-inferiority trial. The Lancet, v. 399, n. 10335, p. 1607-1617, 2022
3. LIM, Eric et al. Video-assisted thoracoscopic or open lobectomy in early-stage lung cancer. NEJM Evidence, v. 1, n. 3, p. EVIDoa2100016, 2022.
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